Em uma perspectiva sociológica das coisas, vê-se que os mesmos fatos - quando não os criam fraudulentamente - são vistos com viés ideológico completamente diferentes! Aliás, a única semelhança, sobretudo em relação às posições extremistas, está na metodologia, pois até mesmo para o falseamento dos fatos, usa-se o mesmo método! Ou seja, os fakes news, quando não a própria contestação da realidade, são semelhantes. Muda-se apenas os lados, ou extremos. Tudo vale, desde que seja para combater o inimigo! Que “se lixe” o interesse da sociedade! Com efeito, qualquer semelhança com o senário político brasileiro atual não é mera coincidência não!
Infelizmente a nossa realidade atual não difere dessa realidade política. A odiosa política separatista entre “nós e eles”, que tanto mal causa, apenas mudou de lado. No passado quando o grupo que se intitulava de “esquerda” comandava os destinos do país, se autoproclamava e ainda continua como o verdadeiro “dono” da verdade, o salvador da pátria! O que vem ou veio em desfavor dos integrantes desse grupo “nós”, ou da sua política, é golpe dos reacionários (“eles”), a exemplo do que ocorreu com o impeachment da ex-presidente Dilma e prisão de alguns dos seus líderes políticos. No atual contexto, a titularidade da verdade mudou! Não se aceita crítica. Fruto do extremismo, o que reforça o ensinamento de que “quem vê só um lado do mundo só sabe uma parte da verdade”.
Na concepção do presidente Bolsonaro, seguido por alguns ministros do seu governo e por boa parte dos seus eleitores, o “nós” mudou de lado! Quem sabe das coisas somos nós; quem sabe distinguir o certo do errado somos nós; quem sabe identificar o que é bom para a sociedade somos nós etc, etc. E tal qual pensava e age o grupo que foi sucedido, o atual “eles”, a imprensa é “contra” o governo, e segundo o atual presidente “ainda está na oposição” (Folha, A8, 05.8.19) e consequentemente faz a política do adversário, a do “quanto pior melhor”, contrariando assim, os interesses da sociedade brasileira! O governo não erra, quem erra são os outros. Isso tudo, obstaculiza o diálogo e quem paga o preço é a sociedade brasileira, justamente quem necessitava e protagonizou a mudança!
É ingênuo supor que a imprensa não tenha seu lado ideológico implícito ou explícito. Contudo, não se pode olvidar que a imprensa, em especial, a séria, com algumas exceções, não cria fatos, apenas os divulga, que aliás, é um dos seus papéis. Logo, não pode ser taxada de parcial pela publicação de acontecimentos que não interessam ao governo. Ora, pensar o contrário, é espezinhar um dos postulados básicos da democracia que é a liberdade de imprensa. A verdade é que ela também, ainda que subliminarmente, tem seu lado, mas para os extremos, ela é sempre a vilã da história, com ou sem razão. Isso, contudo, não se permite que se aplauda toda e qualquer divulgação, em especial, aquelas acessadas ilegalmente por hackers.
Uma grande parte do eleitorado brasileiro queria mudanças na condução político-administrativa do país, é o que revelou o resultado das urnas, na eleição de 2018, isso não se contesta, tendo o apoio ao combate à corrupção, em especial, à operação Lava Jato, como mola propulsora desse contexto.
Contudo, o trancamento, pelo ministro Dias Toffoli, do inquérito policial que apura transações bancárias anormais de Flávio Bolsonaro, filho do presidente, ainda que indireta, causou certa estranheza para boa parte dos eleitores que acreditava no propósito de se combater efetivamente a corrupção, a criminalidade.
Na mesma linha, parte do eleitorado que votou no presidente vem se manifestando contrário às suas atitudes, falas inconvenientes e inoportunas. Até mesmo recorrendo-se a fakes news, como aconteceu, por exemplo, em relação à participação da jornalista Miriam Leitão na guerrilha do Araguaia.
Mas isso tudo não impede que inúmeros seguidores do presidente continuem defendendo-o e atribuindo à “esquerda” e à imprensa a culpa em relação a esse quadro. A culpa é dos outros.
Não há dúvida de que parte da oposição torce pelo “quanto pior melhor” e que vem sendo fomentada pelas falas do presidente e pelas suas participações nas redes sociais.
A pluralidade de ideias é salutar e imprescindível para a democracia, o que é diferente da ideologização radical das coisas em direita e esquerda que é a grande vilã desse quadro e que em nada contribui!
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Cadeira nº. 14:
Patrono: Walmir da Rosa Peixoto
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