quarta-feira, 31 de julho de 2019

31ª NOITE NACIONAL DA POESIA -CAMPO GRANDE-MS


REGULAMENTO

DA CRIAÇÃO E OBJETIVO
1.1 – A Prefeitura de Campo Grande – MS, através sua Secretaria de Cultura e Turismo – SECTUR, em parceria com a União Brasileira de Escritores de Mato Grosso do Sul – UBE – MS, comunica que se acham abertas as inscrições para o concurso literário “31ª Noite Nacional da Poesia” extensivo a participantes em todo território nacional. Este concurso foi institucionalizado pelo Decreto Municipal n° 5.882, de 22.05.1989. Seu objetivo é estimular o aprimoramento da produção literária no segmento POESIA, e a participação nesta 31ª edição reger-se-á por este Regulamento.

1.2 – Poderá concorrer ao certame, gratuitamente, qualquer pessoa sem limite de idade, brasileiro nato ou naturalizado, ou estrangeiro; neste caso, o texto deverá vir em língua portuguesa.

1.3 – No caso em que residentes em outros países sejam ganhadores dos prêmios, deverão, obrigatoriamente, designar um procurador no Brasil.

1.4 – Cada poeta poderá se inscrever com apenas 1 (um) poema.

DO CONCURSO E PREMIAÇÃO
2.1 – O processo seletivo consistirá na escolha, pelo valor literário, dos 10 (dez) melhores poemas, premiando-se em dinheiro os 3 (três) primeiros classificados. Este ano, excepcionalmente, o concurso terá 02 (duas) faixas de premiação: uma para poetas de MS, e outra para poetas de outros estados da Federação ou exterior.

2.2 – Serão aceitos todos os poemas, qualquer que seja seu estilo, com temática livre e que não excedam a 40 (quarenta) versos. Serão desclassificados a priori os poemas que excederem a esse limite.

2.3 – Os trabalhos deverão ser inéditos, sendo desclassificados os poemas já publicados, ou os que a Comissão Avaliadora tiver conhecimento de seu não ineditismo, como os poemas vencedores em outros concursos literários. Considera-se como publicado, o poema veiculado em jornal, revista, livro, Internet e/ou outros meios de difusão.

2.4 – A premiação do concurso “31ª Noite Nacional da Poesia” acontecerá em Campo Grande-MS, em cerimônia aberta ao público, no dia 25 de outubro de 2019, seguida de palestra de escritor(a) de renome nacional.

DAS INSCRIÇÕES
3.1. – As inscrições deverão ser feitas somente pela internet pelo e-mail ubems@ubems.org.br e deverá conter dois arquivos. O primeiro terá o título INSCRIÇÃO, com o texto do poema identificado com pseudônimo, e o segundo, o título IDENTIFICAÇÃO. No arquivo “identificação”, além de se repetir o pseudônimo e o título da poesia, deverão estar indicados o nome completo, endereço e e-mail. Os arquivos deverão vir exclusivamente em WORD. Não serão considerados os que vierem em outro formato.

3.2 – Os poetas residentes em Mato Grosso do Sul deverão anexar no e-mail, fotocópia do comprovante de residência que pode ser de uma das concessionárias de energia elétrica, água ou telefone. Os menores que não possuírem comprovantes em seu nome poderão anexar o de seus pais, justificando-se a filiação através fotocópia simples de qualquer documento oficial.

3.3 – Período: as inscrições encontram-se abertas e encerram-se no dia 30 de setembro de 2019.

3.4 – A poesia enviada por e-mail deverá ser digitada em espaço 1,5 (um e meio), fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12. Não será permitido como pseudônimo o uso do nome artístico já de conhecimento público. As poesias deverão conter título. Caso não contenham, serão identificadas com o primeiro verso, ou parte dele.

3.5 – Informações adicionais poderão ser solicitadas pelo e-mail ubems@ubems.org.br ou, ainda, pelo telefone:(67) 3325-0013 – UBE-MS, no período da tarde.

4 – DAS COMISSÕES:

4.1 – O concurso será regido por duas comissões: uma organizadora e outra avaliadora. A Comissão Organizadora será composta por membros da UBE-MS e SECTUR e será responsável pela produção de todo o projeto, divulgação e supervisão de sua execução.

4.2 – A Comissão Avaliadora será integrada por três membros escolhidos entre escritores, professores, diretores teatrais, atores e pessoas diretamente ligadas à cultura e às artes em Campo Grande e atuará na apreciação do mérito literário dos poemas, levando-se em conta dois aspectos principais: o conteúdo temático e a originalidade. Além disso, o avaliador observará alguns aspectos tais como: o domínio do uso de unidades rítmico-melódicas, sem significar, necessariamente, o uso de rimas e métricas, a coerência e coesão de sentido entre o conteúdo e a linguagem poética, e a norma culta da língua.

5. DA PREMIAÇÃO PELO VALOR LITERÁRIO

 1° lugar – R$ 2.000,00 (dois mil reais)

 2° lugar – R$ 1.500,00 (um mil quinhentos reais);

 3° lugar – R$1.000,00 (mil reais).

Neste 31º Concurso, serão concedidos dois prêmios a cada um dos classificados do 1º ao 3º lugar. Um para poeta de Mato Grosso do Sul, e outro de âmbito nacional.

DA PREMIAÇÃO PELA DECLAMAÇÃO
6.1 – Os três primeiros poemas classificados pelo mérito literário de poetas de âmbito nacional, e os três de poetas residentes em Mato Grosso do Sul, serão encaminhados a intérpretes que os declamarão no dia 25 de outubro; os primeiros lugares receberão o prêmio de R$ 500,00 cada um.

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
7.1. – As decisões das comissões Organizadora e Avaliadora serão irrecorríveis.

7.2- A SECTUR e a UBE-MS não se responsabilizarão pelo transporte, alimentação e estadia dos participantes classificados de outras cidades que desejarem vir a Campo Grande para o evento de premiação.

7.3 – É vedada a participação no concurso, tanto para se inscreverem como atuarem na produção/execução do concurso, de integrantes das Comissões Organizadora e Avaliadora, seus ascendentes e descendentes de 1º grau, bem como seus cônjuges ou companheiros.

7.4 – A inscrição no concurso implica na total aceitação do presente Regulamento.

7.5 – As questões não previstas neste Regulamento serão resolvidas de forma democrática pela Comissão Organizadora.

Campo Grande-MS, 23 de julho de 2019

Secretária Municipal de Cultura e Turismo

Presidente da UBE-MS

terça-feira, 30 de julho de 2019

CASSIANO MARCELO


O menininho loiro de Seis aninhos brincava na rua em frente à casa. Não era de perder muito tempo à mesa da cozinha e logo corria porta afora. Tinha compromissos com pardaizinhos vadios e borboletas que disputavam o pouso no guidão da sua bicicletinha; um cãozinho vira-latas e galinhas também participavam das correrias. 
Ria o tempo todo e disparava como uma fatia de Sol nos gramados, nas ruas vermelhas e ribanceiras dali. Voltava para casa com a carinha e as mãozinhas sujas de alegria para descansar no piso fresco da varanda. 
Ninguém se sentia incomodado com a algazarra dos pequenos seres dos quintais com o garotinho. Uma alegria desvairada tomava conta do lugar: a locomotiva da vida abastecia ali e o garotinho era o piloto. 
A família trabalhava pesado no beneficiamento da madeira bruta e se orgulhava: o dia começava às 5 da Manhã na Serraria em frente à casa. Tinham vindo da Região de Cascavel há poucos anos para fincar raízes em Amambai. 
Naquele Dezembro/1975 havia muita madeira para ser puxada e serrada antes da saída de Férias para Camboriú. O escritório, num terreno ao lado da residência, era um entre e sai de gente para os acertos de final de ano. 
Era rotina de um dos motoristas principais da Serraria estacionar o caminhão de carregar toras numa elevação do terreno, em frente ao escritório, para quando fosse sair descer de Ré e o motor não ‘afogar’. 
No fatídico dia 05/12/1975, o garotinho pedalava sua bicicleta nas ribanceiras da rua e foi chamado para casa. Quando vinha subindo pela passagem, o motorista ligou o motor do caminhão, colocando-o em funcionamento em Ré, sem perceber o menininho logo atrás, com a bicicletinha. 
“Ele concordou e começou a subir em direção à casa, com sua inseparável bicicleta. Nesse momento, o nosso motorista, que precisava levar o caminhão para a oficina, começou a manobrar, dando um longo Ré, bem ao lado do Escritório. O motorista ficou estarrecido quando viu logo à frente do caminhão o Cassiano caído com sua bicicleta” – descreveu a mãe. 
O corpinho esmagado não emitiu nenhum som, como um cordeirinho abatido no comecinho da vida: Não teve chance de chorar ou gritar pela mãe, pelo pai... sem uma despedida, o último abraço, o último beijo. Ninguém presenciou o último suspiro, o sopro de vida esvaindo até apagar completamente os olhinhos da cor do Céu. 
Contaram-me (e eu faço questão de deixar registrado) que a tristeza ficou tão espessa e palpável por ali, que era como uma cortina de fumaça que emergia da Serraria e alcançava toda a Cidade, molhando os olhos das pessoas. 
A família, pouco tempo depois, foi embora de Amambai. Para não sofrer ainda mais com as lembranças tão próximas do ocorrido. A mãe, inconsolável, dizia que “todo mundo deveria ter em casa um menininho assim”. 
Eu não estava aqui em 1975, haja vista que cheguei onze anos depois. 
Recentemente, passei por ali: vi as casas da residência e do escritório, construídas de Madeiras de Lei, com as tábuas longitudinais bem lapidadas, ainda íntegras e sem rachaduras. A rua íngreme, a varanda e os quintais parecem entorpecidos, como se ainda à espera do garotinho com a bicicletinha. 
Depois eu me sentei no degrau mais alto do Cruzeiro pomposo, reformado - fincado no alto do morro – bem próximo ao local da tragédia, agora com uma longa fatia de asfalto novinho se estendendo aos seus pés. 
Fiquei apreciando o Crepúsculo e por alguns instantes fechei os olhos. 
E vi uma pequenina mecha de Sol em disparada pelas ladeiras das ruas, nos quintais e entre as árvores, acompanhada por um cortejo de borboletas, galinhas e passarinhos. 
E por um cãozinho barulhento logo atrás.

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Cadeira nº. 16:
Patrono: Coronel Valêncio de Brum

O verdadeiro cordelista

Por Rogério Fernandes Lemes

Há quem diga que o cordel
Só exista no Nordeste.
Fora desse redondel
É cópia e cabra da peste.
Que cordel é nordestino;
Só pode ser genuíno
Se for fruto do agreste.

Me vem um questionamento:
Não posso me apropriar
Deste belo ensinamento;
Dessa arte secular?
O que faz um cordelista?
Se não ser um ativista
Da cultura popular?

Porque tanto estranhamento
E egoísmo no pensar?
É por esse pensamento
Que só faz capenguear.
Mesmo longe do Nordeste
Passando pelo Sudeste,
Não paro de cordelar.

Assim como o nordestino
Eu falo do meu lugar;
Que tem rio cristalino
Onde não pode pescar.
O rio Formoso em Bonito
Reflete o céu infinito,
Que me perco só de olhar.

Que dizer de Manoel
E das coisinhas do chão?
Nós usamos o cordel
Para dar mais expressão;
Divulgar o meu Estado,
Um lugar abençoado,
Que tem Deus no coração.

Se não fosse um cordelista
Homem triste eu seria,
Ou quem sabe um repentista,
Para minha alegria.
Mas o fato é que escrevo;
O cordel é meu enlevo
Vinte e quatro horas por dia.

Certo dia eu conheci;
Já tinha ouvido falar.
Então eu não resisti
E resolvi cordelar.
Comecei quadra fazendo
Sextilha fui aprendendo,
Até a sétima chegar.

Uns diziam que besteira
O negócio de rimar.
Prefiro fazer esteira,
Pois não gosto de pensar.
Só que quando eles ouviam
Muitos deles só sorriam,
Com vontade de escutar.

Verdadeiro cordelista
Escreve aquilo que sente.
Não quer ser exclusivista
Isso o cordel não consente.
Cordel traz interações;
Aproxima regiões
E enaltece nossa gente.

Mas quem é o cordelista?
Me diga, quero saber.
Das letras é alquimista;
Não vive sem escrever.
Escreve verso com rima;
Metrifica ainda por cima,
Coisa linda de se ver.

Eu não nasci no sertão;
Não tive tal privilégio.
Mas amo de coração
E não acho um sacrilégio.
Escrever cordel eu quero;
É meu desejo sincero;
O cordel é meu colégio.

E assim sigo cordelando
Escrevendo cada verso;
Eu levo a vida cantando
No cordel eu vou imerso.
Sei que sou bom cordelista
Me sinto bem ativista,
Neste vasto universo.

Escrevi este cordel
Em forma de brincadeira;
Usei lápis e papel
Pra dizer que é besteira
Dizer que é só nordestino;
Se não for é clandestino,
Pois cordel não tem fronteira.

Cordelistas somos todos,
Do Oiapoque ao Chuí,
Deus me livre dos engodos
Que criticam por aí.
É gaúcho ou nordestino;
Homem velho ou menino;
Cordel também é daqui.

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Cadeira nº. 1:
Patrono: Antônio Delgado Martinez

Cordel das Neves às Nuvens

Por Rogério Fernandes Lemes
1ª edição 2018
I
No Mato Grosso do Sul
Do Sergipe, bem distante
Um livro de cordelistas
De cara se fez gigante
A primeira antologia
Que fala da covardia
De um assunto preocupante.

II
Tem como organizadoras
Duas feras do papel
Uma chama Daniela
E a outra é a Izabel
A primeira é dos Bento,
A segunda, Nascimento
São rainhas do cordel.

III
A primeira antologia
Com dezessete relatos
Foi um grande desafio,
Em cordel, contar os fatos
Mas o belo resultado
Em cada verso grafado
São reais, não são boatos.

IV
Alaíde Souza Costa
Foi nas trilhas do cordel
De família muito humilde,
Hoje grande menestrel
Escreveu a sua história,
Registrou sua memória
Para sempre no papel.

V
São dezessete mulheres
Que falam de coração
Sobre como o preconceito
Atravessa geração
Deixar a mulher de lado,
Além de ser um pecado,
É uma triste decisão.

VI
São vozes cotidianas
Contra um machismo insano
São vozes que vem das neves
Às nuvens de um céu ciano
Falando do preconceito,
Do carinho e do respeito
Para o cordel sergipano.

VII
Esta obra primorosa
Registrada no papel
É uma bela iniciativa
Da versátil Izabel
Linda voz que anuncia
A brilhante Academia
Sergipana de Cordel.

VIII
Se ficou interessado
Não se avexe, vá depressa
Garantir seu exemplar
E não fique fora dessa
Leitura de qualidade
Com relatos de verdade
E que deixa uma promessa.

IX
Que venha o segundo livro
Porque um só não dá conta
De expressar tanta beleza
Quando a vida é quem reconta
Histórias de preconceito
E da falta de respeito
Que de falar amedronta.

X
Deixo aqui a minha dica
Pra aumentar sua cultura
Ao invés de celular
Faça esta bela leitura
Além de ficar sabido,
E ainda mais esclarecido
Se embarcar nessa aventura.

Participantes da I Antologia das Mulheres do Cordel Sergipano

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Cadeira nº. 1:
Patrono: Antônio Delgado Martinez

Os desafios editoriais no Brasil: dilemas e perspectivas

Por Rogério Fernandes Lemes

sergiocatarino.net
Este artigo é para qualquer pessoa, mas, especialmente aos novos poetas e escritores conhecidos em nosso tempo como “autores autofinanciáveis”. Não se trata de uma categoria nova. No entanto, as novas tecnologias delimitam novos paradigmas, ou seja, novas maneiras de interação editorial e produção de novas obras literárias.
Por exemplo, o procedimento para avaliação de originais, há vinte ou trinta anos atrás, era muito diferente e demorado. Os autores, ao concluírem seus livros submetiam, através de envios postais seus originais às editoras. Decorridos algum tempo recebiam a devolutiva se seus originais seriam ou não publicados.
A dinâmica de tais publicações sempre beneficiava os editores, pois estes possuíam os meios necessários para publicação destinando, dessa forma, uma pequena porcentagem das vendas dos livros aos seus autores, em média, dez por cento. Se voltarmos ao século passado e tomarmos o livro russo Crime e Castigo, por exemplo, constataremos sua produção em partes, ou por capítulos, que eram enviados ao editor à medida que Dostoiévski os concluía.
De qualquer forma, os autores quase sempre desprovidos de recursos econômicos, ficavam à mercê da lei de mercado, a oferta e a procura, além dos editores priorizarem a literatura comercial, obviamente. O foco das editoras sempre foi o lucro, independente se a produção fosse superior ou inferior, para utilizar a definição de Aristóteles quando atribui assuntos superiores à tragédia e, inferiores, à comédia.
Quando falamos, anteriormente, que as novas tecnologias mudaram essa dinâmica editorial, é no sentido de uma facilidade e aproximação entre autores e editores, principalmente ao processo que conhecemos como autofinanciamento de livros. Os autores autofinanciáveis contam com as pequenas editoras espalhadas por todo o país, além da possibilidade que as gráficas oferecem para as pequenas tiragens, a partir de cinquenta exemplares.
E quais seriam os prós e contras desse novo modelo editorial praticado? Quais as vantagens e desvantagens para os autores? A produção editorial tem o mesmo valor literário de um livro produzido em uma grande editora? Para responder a essas perguntas vale lembrarmos que Manuel Bandeira, e outros poetas brasileiros consagrados, fizeram pequenas tiragens autofinanciáveis de seus primeiros livros, em torno de 200 exemplares.
A facilidade de comunicação direta com o editor, no caso das pequenas editoras, é a primeira vantagem que os autores encontram para tratar da produção de seu sonho literário. A possibilidade de uma pequena tiragem também é algo importante, que evita o acúmulo de livros parados, sem falar no valor final do projeto, algo que não comprometeria o orçamento de seus autores. A produção editorial e tão válida quanto um livro publicado por uma editora de renome nacional ou internacional, pois os livros são registrados na Biblioteca Nacional, possuem ficha catalográfica, envio de exemplar à reserva legal ou averbação da obra no Escritório de Direitos Autorais. Outra vantagem considerável aos autores é o fato de que receberão o valor das vendas de seus livros, cem por cento.
E no que se refere às desvantagens dos projetos autofinanciáveis? O fato dos autores financiarem cem por centro do projeto seriam uma questão e, o fato da distribuição dos livros às livrarias do país, seria a outra desvantagem considerável para a divulgação do nome de qualquer autor.
Mas nos deparamos com outra questão de fácil resposta. Escrever algo brilhante e comercialmente viável para que uma grande editora escolha os originais e tente emplacar no mercado, ou publicar, ainda que com outras pretensões pessoais mais modestas, seus livros há muito guardados nas gavetas? Com a consciência e o desejo de que seus escritos sejam conhecidos e lidos, é que os novos autores autofinanciáveis investem em seus sonhos literários.
Outra vantagem já mencionada, a da pequena tiragem, é o fato de uma rápida reimpressão de exemplares de acordo com demanda dos autores. Essa agilidade garante uma carreira literária local bem consolidada. Esperar a vida toda para escrever o texto perfeito ou mesmo ter os originais aceitos por uma editora que, além de distribuir e lucrar muito, caso o livro se torne um best-seller, além de receber dez por cento dessas vendas, é um fator definitivo para que os autores autofinanciáveis invistam em seus projetos.
As novas tecnologias e as parcerias comerciais entre editoras, gráficas e transportadoras derrubaram as barreiras entre editores e autores, em qualquer parte do país. O crescente aumento desses setores empresariais no mercado garante preços, economicamente viáveis, além de qualidade de impressão e prazos de entrega.

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Cadeira nº. 1:
Patrono: Antônio Delgado Martinez

PARTÍCULA DE PALAVRAS

Cada letra me é como um átomo.
Agradável é o cheiro frenético de suas
vibrações harmônicas.
Observando-as vivo minha possibilitância
manuseando o infinito que há em mim.
Diferente dos muitos medrosos,
o infinito me atrai.
Leio nele, todos os dias, minha subjetiva finitude;
contemplo, nas paredes cronológicas,
minhas gorduras digitais;
meus rastros cadavéricos.
Tudo isso vem a lume
quando manipulo verbos e adjetivos,
como um bebê, atônito, e encantado com a luz.
A cada desinência, um novo universo.
Letras são átomos criadores de multiversos.
Letras são tesouros dados aos poetas
para conferir-lhes o poder de criar tudo;
para trazer ao existir
o que hoje é ausência, é silêncio,
é anônimo...
Letras são partículas de palavras.
Palavras são dínamos reveladores,
destrutivos e reconfortantes.
E a palavra volte às letras, como o era;
e as letras voltem ao Criador que as deu,
sabiamente... aos poetas.

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Cadeira nº. 1:
Patrono: Antônio Delgado Martinez

A BELA CREPÚSCULO

O chão batido da cidade,
calçadas manchadas de talentos
aproximam-se ao relevo retorcido
faiscando o ritual imaginário.

No pontilhar de cada esquina
há ritmo traduzido em versos
pássaros despojados, expelem vaidades
e vestem túnicas de beleza.

Novos horizontes se desenham
enfatizam o novo amanhecer,
é o passo a passo da cidade,
é a busca do vir a ser...
bela Crepúsculo... torrão fértil.

Passarinhos despojados
expelem suas vaidades
rasgam nuvens d’esperança,
sopram a brisa de Norte a Sul.

Figuras e cores se confundem,
versos e reversos se revezam
recortes de nova página
é CREPÚSCULO que ascende para o novo.

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

CATACRESE

Palavras estreitas e avulsas
nos recortes da história
expressa-se o político
esquecendo-se do verbo.

Paredes se encontram
no desfile de objetos
pernas da cadeira sufocada
no viés da catacrese.

Estreitas em ladeiras
passo a passo se convergem
com dentes de alho e cabeça de alface
completa.

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

NO SÍTIO

Destacam largas letras
e racham a poesia
matizam hífens e negritos
elegantes folhas amarelas

Mel de abelha trata palavra
Seu amanhecer colhe doçura
tapete vermelho, última ordem
esplêndida cor da chegada.

Perdem as horas que rodeiam
Viva o amanhecer
Café, pão com manteiga
Pássaros dividem a janela.

Dedos postos à face
reaprende conversa macia
praticam verdes veredas
palavras avulsas.

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

LADEIRAS

No ímpeto da espera
escorrega saudade
brotam lágrimas
na parede escondidas

Espreitam horas a fio
ladeiras adormecem
laços estreitam
desaprende no escuro

Escurece à tarde
há fantasmas ao redor
retendo no aconchego materno
desliza na deleite escuridão

fantasmas arrepiam cortinas
escorre-se de baixo da cama
sonhos e pesadelos brotam
enfeitiçam casa de tábua.

Manuseios e tendões
refletem cores e tendências
tudo se cria do nada
expele perfume da flor.

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

ÁGUA

Vida fonte de água
água e palavras se confundem
vertem sangue e suor
tudo precisa cuidado
quem ama protege

Para que serve palavra:
vida veículo do amor
palavra constrói vidas
vida constrói palavras
palavra não serve pra nada...

Palavra escuta passarinho
viaja...
atravessa oceano
encontra melodias
vida encanta.

Palavra é luz,
É terra...
é água...
é vida...
é amor...

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

PRAIA-MAR

Esquenta viagem certeira
cada ponto uma pergunta
laços estranhos estreitam
silvestre beleza patente

Mar amarelo confunde
visão aproxima o tédio
areia recorta anseios
verão requebra molejo

Visitantes e piratas
espalham vaidades e cores,
palavras e gestos ecoam,
turista sempre novo

Chega a hora do melhor:
– camarão ou peixe?
não se fala caviar...
tudo vale a pena
é água, é mar, é sal, é sol...

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

RECORTES CONTEMPORÂNEOS

(homenagem a Joaquim Moncks)

Palavras gotejam versos
poesia guarda segredo
vidente é o poema de Moncks
encantam verdes manhãs.

Mate, bebida obrigatória
adoça toda palavra
esquece vida pacata
estreita laços longínquos.

Saudade lhe aperta o peito
longe do chão e querência
embrulha palavras em textos
oferece em rodas estranhas.

Aplausos aos gauchescos
pela joia encontrada,
não há dote sequer que pague
tamanho conhecimento gaudério

Chapéu em cabeça fértil
encaixaverve com cérebro
palavras lapidam estradas
Joaquimalarga caminhos

Tapete vermelho confunde
beleza e sabedoria
oxalá! cabeça desse naipe,
não se esquece jamais.

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Patrono: Hilton Pereira Vargas

CHUVA

Chove chuva,
terra molhada incendeia
cascas de árvores
saudade escorre pelos vãos.

Ver, rever, chorar...
viagem, presente, passado
a máquina do tempo
com fio de lembranças
corre solto na calçada

A cigarra encanta
folhas de árvores dançam
bichos alegres
brincadeira de criança.

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Patrono: Hilton Pereira Vargas

DEUS-SAUDADE

(homenagem a Elen)

Forças patentes se arrastam
é pedra, é ferro, é fogo
potentes montes e rochas
nas largas lembranças.

Sanidade exala saúde
santidade reaprende luz
estreito caminho enobrece
acenam virtude, paz, criação.

Beleza, pura verdade
água, nuvem, vento se completam
obra viva vem à tona
o amor descobre Jesus.

Perdão, cartão de visitas
lapso de tempo contagia,
Instigante o peso da palavra
que pinga gotas de vida na terra

Toda xícara d’ esperança
transborda o caldo da saudade
lágrimas e oceano se confundem
é o milagre da criação.

Antecederam anjos e arcanjos
espalhando o porvir
Pai, todo poderoso
é amor no silêncio da flor.

Caminha na ladeira
reaprende lembranças,
pedaços de amor repartido
derretem pedras do caminho

Pérolas revertem portais
despedem-se lágrimas e escuridão
voz vidente baila com letras
doce Palavra! Deus – saudade!

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

VOZ QUE SE PERDE

Noite estreita se revela
em cada sono perdido
aguça a vontade de falar
falha a fala de repente

Que sufoco!
surge estranheza,
são palavras apertadas ao vento
investidas horas se repetem
rouca voz silencia.

Alternativas apontam
força e reforça a esperança
palavras molhadas desenrolam
atravessam vaidades alheias.

Repouso, quinta-feira! recomenda:
descanse, é feriado de chuva,
esqueça o tempo perdido
durma até domingo azul.

Verde manhã aparente
pingam fios adormecidos,
bailam as horas no sereno
quebra voz arranhada que passara.

Corre gente, corre o tempo
todos riscam horas de trabalho
reacende o humor à vida
que vivifica cada dia.

Sonhos e versos recortados
ostentam o novo verão
ouça o canto da gaivota!
alçando voo molhado de saudade.

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

PALAVRAS AO VENTO

Ventos são palavras
sílabas e versos se convergem
tira o chapéu à saudade
esconde-se na poesia.

A poeira da palavra
esconde lembranças
atravessa paredes
e traduz o silêncio.

Atrás da porta
orelhas em pé
perguntas e respostas...
palavras soltas ao vento.

Folhas na parede
música a bordo
desenham pedaços de perguntas
esperam o porvir.

Lei eleitoral
quesitos e questões
campanha corre solta
esqueceram-sedo verbo.

Cachoeira arrisca potência
pedras do imaginário,
no topo arquiteta esperança
malha fina delira na receita.

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Cadeira nº. 18
Patrono: Hilton Pereira Vargas

ESCRITO NAS ESTRELAS

A nova ortografia alça voos
baila entre as letras
passeia cada página
renova lembranças
relembra muralhas.

O velho relógio encurta’s horas
com licença poética,
sacode passado e presente
tirando poeira do tempo
risca o verde verão.

A língua está em festa
comemora dia a dia
pintando cor à cidade
desagrados suspensos no ar...
despojados são os eloquentes.

Versos viandantes
nas páginas de cada estrada
passos que passaram
novas letras chegaram
peneirando a gramática.

O trema sucumbido
deu a outro o seu lugar
nada é insubstituível
o que chega é sempre novo.
A palavra agradece.

Tudo discutido e aprovado
substantivos, adjetivos, pronomes,
advérbios, preposições ,conjunções;
expulso o hífen pela maioria
salvando-se as exceções.

O hífen todo poderoso
salva-se em alguns prefixos
são os pequenos consagrados:
pré, pró e pós que
ganham defesa e aplauso.

Mantidos sem obstáculos
os grampos vereditos
protegidos na Lei:
além.aquém,recém
cortejando o nosso português.

Os destemidos hiatos
abraçam-se aos diferenciais,
apelam aos facultativos
e tiram o chapéu aos ditongos.

Angola,Brasil, Cabo Verde,
Guiné–Bissau,Moçambique, Portugal,
São Tomé e Príncipe em Lisboa:
acordo ousado e aplaudido,
abraçam-se com sorriso ortográfico.

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NA PAREDE

Poesia dependura palavras
metamorfose suspensa na parede,
atravessam o olhar do avesso
atropelando a metonímia do verso.

O olhar de cada metáfora
faz soar a música do tempo
escorrega o acorde lusitano de Naveira
ao seu divino “sangue português”.

Na esteira do luar
gotejam pingos de alegria
“passa boi passa boiada”
ninguém vê a travessia.

Joaquim Moncks protesta:
“confessionário íntimo”,
colhe pedaços de palavras,
burila caldo de saudade
lapidando versos.

Carpinejar recomenda
o avesso do verso,
estranhamento é preciso,
carpindo de repente
a magia da palavra.

Todo leite derramado
sacode a poeira do orvalho
desenha letras em linhas tortas
retira pedaços perdidos.

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ESPELHO

Espelho, espelho meu...
é o Brasil rico, pedras e pedreiras,
mas tem dilúvio no caminho
que atravanca:vai devagar, é Cachoeira.

Não importa “Dilúvio” ou vendaval
seja qual for o espanto,
só não se deve patetear
com “Cachoeira” no quintal.

A “ arte do encontro e desencontro”
de Vinícius é fundamental
sem esquecer-se de Quintana
“– eles passarão, eu passarim”.

Lágrimas das estrelas
pingam no pantanal
animais e natureza gritam:
salvem a terra de Manoel de Barros

Esbeltos são o tuiuiú e arara azul,
Jaguatirica bailam por entre as matas
Jacarés saem dos pântanos e,
esparramam-se no vibrante sol
clamam ao homem: preserve !
– preserve a Vida.

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QUAL SENTIMENTO? QUAL EMOÇÃO?

Emoção chega pronta
Não se pode alterar,
devagar é o sentimento
enriquece coração.
No silêncio da manhã
cada um no seu papel
sentimento verso velado
rende renda de emoção

Vida veloz serpenteia
busca o próprio caminho,
proteger o sentimento
é sinal obrigatório.

Quero um punhado de estrelas
que brilhem sem parar.
tem bolhas de sabão
na figueira da esquina.

SOL AMARELO
Caracol escreve lembranças,
anela, alonga e aquece
desacelera o passo, curva em nó
desvenda sua cor.

Amarelo é o meio dia,
hora de Billkis- Rainha de Sabá.
desimportante as estrelas,
a lua, é o que importa,
anoitece paredes
escorre leite na manhã

Nada reescreve o amanhecer
o sol ofusca vento quebrado
com massas modeladas
planta palavras na areia e
segue serpenteando...

Palavras com letras de vidro
tira um pedaço de espelho
escolhe, qual papel diferente
com cheiro de terra molhada
que vai riscar.

Girassol com amor amarelo
esquece as pedras do caminho,
corre o tempo contra o dia
desenha cada vida, cada história.

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O ROSTO

Na sonoridade da esperança
sente vozes de longe
o espelho da bondade
reflete na ladeira.

Qual rosto pode ser...
com semblante emaranhado?
o tempo não falha,
nada fica esquecido.

Rosto carrega sonhos
preparar é preciso,
é a fé que enobrece
amolecendo o coração.

Pulo de um lado,
viro do outro
não me perco
busco tua face.

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SETEMBRO

Paisagens delirantes
sacodem suas matas
beijam o vento, escorrem no poente,
Imploram: preservem os recantos.

Flor, flora, natureza,
tudo impecável e divino...
Bíblia entrelaça a primavera
milagre da redenção.

Azul, vermelho, amarelo,
colorida é a nova estação,
abrem portas e janelas
anjos e arcanjos se deleitam.

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NO REINO DAS PALAVRAS

Quebra-se o silêncio
no reino das palavras
são poemas esperando
a contemplação das letras.

A toada de Drummond
vale pelo amor,
tudo se esquece
o amor supera palavras...

Vinícius vasculha o mundo
abandona religião e misticismo
canta tanto amor e felicidade,
reitera: “beleza é fundamental”

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PALAVRAS REVESTIDAS DE SAUDADE

recorrem Vinicius, Cecília e Drummond,
esboroam-se sonhos de cada ser
é a força de todo verso.

Estremecendo-se no centro
ar de constrangimento,
escorrega na cera da sala
sem titubear, alarga sorriso amarelado.

Com verdes brilhos nos olhos
encolhe-se no sofá
espera do alto um arco-íris
que goteja lágrimas de festa.

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LEMBRANÇAS

Nos retalhos da memória
Desaprendem lembranças,
o sublime é o avesso do real,
o dedilhar de cada nota esquecida,
lembra a saudade que se perde.

Cai à tarde na magia do tempo,
pedras molhadas de saudade
agitam o relâmpago instantâneo,
traços – letras de poeira
confundem-se com melodia dos pássaros.

Pedaço de perdão repartido
entregue com laço de fita,
perdão, pedido obrigatório,
pedreiras derretidas
no colapso do tempo.

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