terça-feira, 30 de julho de 2019

O verdadeiro cordelista

Por Rogério Fernandes Lemes

Há quem diga que o cordel
Só exista no Nordeste.
Fora desse redondel
É cópia e cabra da peste.
Que cordel é nordestino;
Só pode ser genuíno
Se for fruto do agreste.

Me vem um questionamento:
Não posso me apropriar
Deste belo ensinamento;
Dessa arte secular?
O que faz um cordelista?
Se não ser um ativista
Da cultura popular?

Porque tanto estranhamento
E egoísmo no pensar?
É por esse pensamento
Que só faz capenguear.
Mesmo longe do Nordeste
Passando pelo Sudeste,
Não paro de cordelar.

Assim como o nordestino
Eu falo do meu lugar;
Que tem rio cristalino
Onde não pode pescar.
O rio Formoso em Bonito
Reflete o céu infinito,
Que me perco só de olhar.

Que dizer de Manoel
E das coisinhas do chão?
Nós usamos o cordel
Para dar mais expressão;
Divulgar o meu Estado,
Um lugar abençoado,
Que tem Deus no coração.

Se não fosse um cordelista
Homem triste eu seria,
Ou quem sabe um repentista,
Para minha alegria.
Mas o fato é que escrevo;
O cordel é meu enlevo
Vinte e quatro horas por dia.

Certo dia eu conheci;
Já tinha ouvido falar.
Então eu não resisti
E resolvi cordelar.
Comecei quadra fazendo
Sextilha fui aprendendo,
Até a sétima chegar.

Uns diziam que besteira
O negócio de rimar.
Prefiro fazer esteira,
Pois não gosto de pensar.
Só que quando eles ouviam
Muitos deles só sorriam,
Com vontade de escutar.

Verdadeiro cordelista
Escreve aquilo que sente.
Não quer ser exclusivista
Isso o cordel não consente.
Cordel traz interações;
Aproxima regiões
E enaltece nossa gente.

Mas quem é o cordelista?
Me diga, quero saber.
Das letras é alquimista;
Não vive sem escrever.
Escreve verso com rima;
Metrifica ainda por cima,
Coisa linda de se ver.

Eu não nasci no sertão;
Não tive tal privilégio.
Mas amo de coração
E não acho um sacrilégio.
Escrever cordel eu quero;
É meu desejo sincero;
O cordel é meu colégio.

E assim sigo cordelando
Escrevendo cada verso;
Eu levo a vida cantando
No cordel eu vou imerso.
Sei que sou bom cordelista
Me sinto bem ativista,
Neste vasto universo.

Escrevi este cordel
Em forma de brincadeira;
Usei lápis e papel
Pra dizer que é besteira
Dizer que é só nordestino;
Se não for é clandestino,
Pois cordel não tem fronteira.

Cordelistas somos todos,
Do Oiapoque ao Chuí,
Deus me livre dos engodos
Que criticam por aí.
É gaúcho ou nordestino;
Homem velho ou menino;
Cordel também é daqui.

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Cadeira nº. 1:
Patrono: Antônio Delgado Martinez

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