quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Sinapses da infância


O menino saiu pelo campo

Logo depois da chuva

Amava sentir a refrescância na sola dos pés

Ao pisar a grama molhada.

 

Seus olhos atentos à superfície do chão

Em busca das tenras e inigualáveis guaviras

Que explodiam no céu da sua boca

Em um misto de vislumbre e sinestesia

Do mais verdadeiro paraíso.

 

Ao percorrer toda a extensão

Sempre colidia com a casinha de palha

Sustentada por varotes de cambará

“Lenha de bugre”, sempre ouviam lhe dizer

Mas não entendia o que significava.

 

Queria adentrar ao casebre à beira do brejo

Impregnado com o cheiro da fumaça constante

Do crepitar do cambará partindo em brasas

Ansiava pelo evento que mais iguala os seres vivos:

O alimentar-se cotidianamente.

 

A iguaria era simples: mandioca cozida

Imersa em graxa quente

Assim vislumbrava o ente devorar seu café da manhã

Totalmente envolto em icônica existência.

 

O menino sempre que saia pelo campo

Logo depois da chuva, com os pés molhados

E o gosto ainda intenso, da última guavira,

Se deparava com a casinha de palha, à beira do brejo

A observar o alimentar-se do ente

Que rangia os dentes, totalmente imerso

E envolto em sua icônica existência.

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